BRINCARTE

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Saturday, February 21, 2015

A POESIA DE ANTONIO MIRANDA


MÃE

Mãe, nome puro como o céu,
Mãe, nome singelo.
Juro por tudo mais sagrado
Que serei sempre sincero.

Oh minha mãe!
Quanto és boa,
Desde manhã até a noite
Sua voz em meus ouvidos, soa.

MAZZAROPI

Precisamos resgatar a figura do Jeca Tatu
do matuto, do nosso esquecido Mazzaropi
-um caipira com nome de pizzaiolo!
Não importa, ele era telúrico!
com suas botas, fumo-d
e-rolo, chapéu surrado
camisas quadriculadas, cusparadas e babaquices
[babaquice não é uma palavra poética
adverte-me o editor Victor Alegria]
caminhando aos trambolhões, apalermado.
Seu casebre era de pau-a-pique
o cão preguiçoso a imitar o dono
o panelão no fogo e o cigarro-de-palha
queimando-lhe os lábios no cochilo
ou no ronco escancarado.
Grosseiro? Vulgar? Caricato?
Ríamos de nosso próprio desengonço
de nossa rudeza, ingenuidades
ao som de violas e pilhérias
em torno de fogueiras, sob bandeirinhas
de São João, no terreiro
na roça! no cinema, envergonhados.
Os filmes horríveis, por isso maravilhosos!
Cantava como um bezerro desmamado
atuava imitando a si mesmo
e, por isso mesmo, genial.
Os filmes eram sempre os mesmos
os enredos sempre iguais, banais
as mesmas vacas,
os mesmos pastos
da fazenda que de
via ser a dele
as mesmas galinhas
o velho caminhão de feira
e aquele anda
r pisando ovos
ou bosta de gado.
Era o nosso Cantinflas, o nosso Chaplin
ou, se menos, nosso palhaço-de-circo
nosso ventríloquo, nosso bobo da corte
que nos levava ao riso e às lágrimas.
Agora os nossos interioranos são cowntry
em vez de viola ouvem guitarras elétricas
em vez de calças fr
ouxas e encolhidas
usam jeans e cintos reluzentes.
Mas, lá adiante,
no pé-de-serra
ainda existe um Mazzaropi tirando
bicho-de-pé com facão de cortar cana
e alguma lamparina, uma moenda
caninha de alambique
uma capelinha rural
enfeitada de fita
e folhas de palmeiras
e um galo marcando a tradição.

OS ÍNDIOS
(fragmento)

A terra é a existência do índio
-terra de todos, comunitária
terra que é partícula
em movimento e assimilação.

Terra e índio: um vive da outra.
Mãe e filho, indivisíveis.


ANTONIO MIRANDA – O escritor maranhense Antonio Lisboa Carvalho de Miranda é membro da Academia de Letras do Distrito Federal, professor do Programa de Pós-Graduação da Informação e Documentação da Universidade de Brasília (UnB) e no seu portal traz uma seção de Poesias Infantis reunindo seus trabalho artístico e de muitos outros poetas que militam na área. Na sua poética ele brinca com as palavras criando “ideogramas” que formam imagens e mostram o seu significado. Confira o portal do autor aqui e veja mais dele aqui.




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